quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Violência


Já no início de 2010, a violência segue incontida, fazendo mais uma vítima, para perplexidade da parcela "civilizada" de nossa sociedade. Referimo-nos ao jovem assassinado em frente à sua casa, em São Paulo, quando atendia ao chamado da irmã, que estaria sendo assaltada.

Sempre nos perguntamos o que pode explicar esse contínuo crescimento da violência; sempre nos perguntamos o que pode ser feito para conter a progressão de tão alarmante "caus social". Mais policiamento; legislação mais severa; atuação e punição mais rigorosas por parte do Poder Judiciário; menos "paternalismo" da parte de nosso Poder Público... Enfim, são as mais variadas sugestões para a solução do problema. Talvez todas elas mereçam cuidadosa análise, eis possivelmente encerrarem fração da verdade que deve respaldar qualquer consideração séria a respeito da situação.

Todavia, seguramente, a solução desse complexo conflito social não está adstrita a "diagnóstico" tão simples e, até mesmo, rudimentar.

A primeira constatação, para ainda maior perplexidade (e talvez uma súbita indignação) nossa é: a sociedade também é agente da violência! É isso mesmo, surpreso cidadão, a sociedade (você, eu, ele, nós...) é agente de violência!... E enquanto não repensarmos esta triste e lamentável realidade, a constatação segue a mesma: o crescimento cada vez mais vertiginoso da violência!... Olhe à sua volta e verá: policiamento armado; muros cada vez mais altos encimados por ameaçadoras cercas elétricas; veículos blindados; condomínios isolados e fechados e os mais variados mecanismos de segurança... E você? Ah, você ignora o jovem que, a despeito de lhe pedir "um tostão", na realidade, lhe pede "socorro"... Sim, "socorro social"!

Como é simples se manter "distante" dos problemas dos outros...

Repare bem: não há escolas, professores são cada vez mais desvalorizados, a renda do cidadão cada vez mais aviltante; uma política governamental que privilegia a ociosidade em prejuízo da livre iniciativa e do estímulo ao trabalho; a saúde reduzida a uma "promessa" constitucional, aproveitamento indevido de ações governistas, eis que, boa parte delas, dirigidas aos redutos dos estados "nativos" dos titulares das pastas ministeriais (como faz o Ministro Geddel Vieira Lima, com "seu" estado da Bahia, ao destinar-lhe quase 50% das verbas ministeriais - Ministério da Integração Nacional -, segundo notícia veiculada no telejornal matutino "Bom Dia Brasil", em 07/01/2010 - Minas Gerais e São Paulo, juntos, receberam algo como 4%. Sem comentários... -Detalhe: o Ministro Geddel Vieira Lima é pré-candidato do PMDB para o Governo da Bahia, nas próximas eleições)... A propósito, o grande Senador Jarbas Vasconcelos teceu "importantes" e "esclarecedores" comentários sobre a prática do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, em recente entrevista constante das "páginas amarelas" da Revista Veja...

E a sociedade? Aqueles que podem, matriculam seus filhos no ensino privado (em vez de reivindicarem ensino público de qualidade), contratam "planos de saúde" (em vez de exigirem qualificados e eficientes serviços públicos de saúde), "exilam-se" em seus próprios automóveis (em vez de postularem transporte público adequado), adquirem propriedade em condomínios fechados (em vez de questionarem a qualidade da segurança pública)... A sociedade adota a postura egoísta do ausente desinteressado do problema alheio, esquecendo-se que "ela" é um organismo vivo, em que tudo se passa sistemicamente, ou seja, a ação sobre uma parcela (parte), certamente implicará em resultados sobre todo o restante do "corpo social"; é como nosso próprio corpo, pois se enfiarmos uma "agulha infectada" em nosso dedo, nossa eventual omissão no imediato e eficaz tratamento poderá implicar numa infecção generalizada, atingindo todo o nosso corpo... Nosso desinteresse pela realidade e pelo sofrimento alheios não têm limites ou paralelos... Vale lembrar, a título de exemplo, que um dos ganhadores do grande prêmio da mega-sena (aproximadamente, R$ 70.000.000,00) anunciou que "enfim, terei um plano de saúde". E ele agora precisa?... Mas, em tempo algum refletiu que os "planos de saúde" seguem massacrando a classe médica, pois destinam, aos aludidos profissionais, valores aviltantes a título de remuneração do trabalho realizado!... E "esse ganhador da mega-sena", depois, vai reclamar que foi mal atendido... (não que uma coisa justifique a outra, pois os médicos deveriam se rebelar e, não, manterem-se passivos diante de estado de coisas).

Simplificando, atento leitor, quando nos deparamos com um indigente buscando, no lixo, as sobras de alimentos, também somos agentes de violência, uma covarde violência... Alguns poderão indignar-se, adiantando que o citado "indigente" pode ser um "drogado" que optou pela própria segregaçao social. Mas, quem somos nós para julgar??? Será, mesmo, que a indigência é resultado, apenas, de uma opção individual?... E a ignorância (a criança de tenra idade não tem culpa dos pais desinformados ou do Governo ausente, corrupto e incompetente), a violência doméstica, as drogas, os maus exemplos (principalmente dos maus políticos), a inexistência da coesão social (um dos próximos temas a serem abordados)?...

Pois bem, em última análise, a sociedade é duplamente violenta: (A) ao ignorar a realidade e o sofrimento alheios e (B) ao omitir-se em uma atuação política mais vigilante e participativa!!!!

Sim, cidadão, quando você ignora as campanhas políticas; quando você vota no amigo, por ser "seu" amigo; quando vota, pensando nas prometidas vantagens que lhe poderão ser destinadas; quando vota em retribuição (pagamento ou troco) a vantagem (pecuniária ou não) que lhe é ofertada; quando vota, apenas, para "cumprir" uma penosa obrigação política (na verdade, cívica), VOCÊ age como um odioso agente da violência, pois a conduta do candidato eleito só fará alimentar cada vez mais o trágico ciclo da violência, pois corrupção, desonestidade, incompetência, clientelismo, omissão, dentre outros, são "poderesos" agentes de incremento do "caus social". Portanto, cidadão, pense, reflita, participe, questione e, se esquecer, recorra à esse poderoso "instrumento" que é a internet. Mas, principalmente, aja!!!! Ou, então, mantenha-se impassível, ignore sua necessária participação política, mas, depois, não reclame, pois, como dito, a sociedade é um todo sistêmico, e o que, hoje, afeta o outro, amanhã poderá afetar VOCÊ!!!



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