segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A natureza humana e os conflitos sociais.

É muito comum nos referirmos ao Homem como um "animal racional". Esta definição remete a uma concepção de que o Homem é um ser naturalmente civilizado e apto para a convivência social. Nada mais enganoso ou, no mínimo, "não necessariamente correto"...
Sem receio de expor uma idéia "politicamente incorreta", para nossa própria convicção podemos externar que apenas a primeira parte da definição deve refletir a idéia central e absoluta do que seja o Homem. Assim, a primeira percepção deve ser no sentido de que o Homem é, essencialmente, um animal. A racionalidade é uma qualificadora desse animal, ou seja, um animal que pode ter condições de pensar (como qualificadora, não constitui uma garantia essencial à condição de todos os indivíduos). Destarte, não quer isto dizer que o Homem, necessariamente, pense ou que "sempre" se valha desta característica... Em muitos casos, o pensamento, simplesmente, não é utilizado, eis que muitos comportamentos advêem de impulsos primitivos, em que a capacidade de reflexão e racionalidade é ignorada pelo responsável por determinada ação (considerada, também, a dimensão omissiva) ou reação. Nesse momento, o indivíduo age como um animal não necessariamente racional. É a manifestação do primitismo atávico! A perda, ainda que temporária, dos referenciais racionais...
Por outro lado, a parcela "pensante" da humanidade foi responsável por inúmeros avanços e conquistas ao longo da história da civilização. E avanços e conquistas em todas as esferas da atuação humana... E é, principalmente, essa parcela da humanidade que nos autoriza a definirmos como "racional" a própria natureza humana.
Todavia, por ora, procuremos considerar todos os absurdos com os quais, cotidianamente, nos deparamos. É possível, realmente, definirmos todo e qualquer indivíduo como um ser eminentemente "racional"?... Ora, é nisso que reside o ponto central para a reflexão que este ensaio almeja despertar: Até que ponto, um indivíduo deve ser encarado como um "ser" essencialmente racional (ou seja, pensante)? Todos os indivíduos agem como seres realmente racionais (caracterizados pela capacidade de pensar e, portanto, refletir sobre suas ações e impulsos)?
Devemos, ainda, lembrar que a análise da natureza humana, muitas vezes, não pode prescindir de um duplo enfoque, a saber: o Homem (individualmente considerado) e o Homem (socialmente considerado). E isso já foi realizado com maestria pelos mais memoráveis filósofos sociais (Marx, Weber, Durkheim, etc). Destarte, convidamos o leitor a um exame das teorias dos mestres relacionados, evitando, assim, um cansativo prolongamento deste modesto e "esforçado" ensaio.
O mais importante, por ora, é considerar o Homem no seu enquadramento social, onde é bem mais perceptível a sua dimensão "animal" em contraposição à sua dimensão "racional".
A sociedade - palco e núcleo de convivência humana - é uma grande concepção humana que deveria se constituir num efetivo meio de segurança, convivência e administração das necessidades individuais e coletivas - aliás, em matéria anteriormente formulada, já abordamos a teoria da gênese social (contratualismo), que procura explicar a motivação que conduziu o Homem a se "associar" aos seus semelhantes. Entretanto, certos comportamentos (individuais ou sociais) remetem a uma constatação diametralmente oposta, na medida em que apuramos que é na sociedade que encontramos agentes que atentam, justamente, contra a nossa própria individualidade. Assim, encontramo-nos diante da perene "dialética", que resulta do debate: "Homem na sua dimensão individual" e "Homem na sua dimensão social". Embora possamos nos apresentar distintamente no ambiente "doméstico" (família, roda de amigos, ambiente acadêmico, etc.) e num ambiente social mais amplo, podemos, também, nos apresentar sem as "máscaras" ostentadas em nossa condição individual perante o ambiente social (o chamado "teatro social"), bastando que sejamos orientados por uma típica "manifestação de massa" (fanatismos religiosos, políticos, esportivos, etc). Todavia, por limitação temática, buscaremos, no momento, uma análise consolidada na observação de uma realidade apenas social, considerada a sociedade vastamente consolidada, mas prescindido das inegáveis forças de condução da ação coletiva (a sociedade impelindo o indivíduo num rumo único de orientação coletiva - as chamadas "manifestações de massa").
Portanto, volvendo a perspectiva social (o indivíduo atuante no meio social, mas sem as forças coletivas que o impelem rumo a determinado comportamento) o fato de estarmos, tão somente, insertos num determinado meio social, não nos garante (como deveria) a segurança e a pacífica convivência, a despeito de estarmos submetidos a uma autoridade estatal (outra concepção humana, cuja principal finalidade é administrar a perfeita convivência social), porquanto várias "agressões" podem ser protagonizadas, exatamente, pelos "homens" responsáveis pela vigília estatal. Como se pode perceber, paradoxalmente, a sociedade, ou o organismo encarregado de sua permanente administração e fiscalização (governo), não se constitui em garantia para a plenitude da convivência humana, dado que o seu principal elemento permanece relegado a uma constante "orfandade conceitual e filosófica" (daí a necessidade de se avaliar mais profundamente as peculiaridades na natureza humana, de molde a adequá-la às naturais necessidades da convivência social). Nesta perspectiva, um primeiro ponto de análise se anuncia como de sobranceira importância: a percepção e identificação da natureza humana, infelizmente mais adstrita à dimensão "animal" que à dimensão "racional".
Antes, então, de um profundo estudo da natureza humana, percebamos, assim, que o homem pode ser um animal "muito perigoso"... Então, tomemos muito cuidado com o "bicho" homem, pois ele nem sempre ele é racional, mas, apenas, animal...

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