segunda-feira, 3 de maio de 2010

Maior abandonado


É certo que muito se tem debatido a respeito do problema do "menor abandonado". O abandono à infância representa um grave problema social, devendo ser enfrentado com determinação e competência. Todavia, a despeito de investir na solução de um problema, não se deve ignorar outros, que também acarretam importante desestabilização social.
Particularmente, em Minas Gerais, observa-se uma impressionante carência demonstrada por significativa parcela da sociedade. São o que se pode denominar de "maiores abandonados", levados a uma condição de absoluta carência, tornando-os vulneráveis aos mais débeis sentimentos de rejeição e recalque pessoal.
O "maior abandonado e carente" apresenta comportamento inerte e submisso a maior parte do tempo, podendo ser levado a súbitas demonstrações de euforia. Entretanto, é bem verdade que, no caso, a euforia é extremamente incomum, uma vez que o objeto de "admiração" desses "maiores carentes" revela uma genética rejeição ao sucesso que aquela categoria social anseia.
Abordando a euforia que acomete significativa parcela dos mineiros, notadamente nesta semana que se inicia, pode-se perceber um admissível entusiasmo, mas uma quase inexplicável exaltação por uma conquista que, para outros, é inteiramente episódica e natural. Todavia, no caso, a representação emocional dos "maiores abandonados", conhecida por Clube Atlético Mineiro, não correspondente às constantes expectativas de seus "sectários", levados a essa condição pela desestabilização psicológica provocada em razão de uma covarde carência esportiva.
O "maior carente" revela, assim, comportamento passional enganosamente humilde, pois na medida em que sua desafortunada agremiação esportiva alcança a mais tênue conquista, são capazes de demonstrar uma superdimensionada egolatria, que mascara o sentimento íntimo de absoluto complexo de inferioridade. E essa debilidade psicológica acarreta dupla instabilidade emocional, na medida em que: (A) revela a mais nítida sensação de despeito pelo êxito alheio e; (B) pode refletir comportamentos manifestamente anti-sociais, com níveis inprevisíveis de violência verbal e até física.
Então, a outra importantíssima parcela social de Minas Gerais, equilibrada e sensata (satisfeita a maior parte do tempo), deve adotar um comportamento de compaixão e velada compreensão pela alegria dos "maiores carentes", notoriamente conhecidos como "atleticanos", entendendo o limitado motivo de sua exaltação, explicável diante da extrema carência de motivos para suas expansões emocionais. É bem verdade que sentimentos outros, como inveja e despeito, são constantemente acalentados no seio da comunidade "carente", tanto mais, diante das cotidianas conquistas de agremiações esportivas estaduais e nacionais de bem maior espectro. A propósito, são conquistas obtidas de embates que o alvinegro mineiro (Clube Atlético Mineiro) não pode sequer aspirar, principalmente diante da limitação das próprias conquistas. Mas, a débil condição do semelhante não pode justificar qualquer conduta que reflita humilhação ou desinteresse por seus precários triunfos.
Assim, compreensão e compaixão devem ser demonstradas perante as quase inexplicáveis e incontidas expansões emocionais daqueles que, não tendo mais com que se satisfazerem, limitam-se ao pouco que se lhes pode ser destinado.
Com efeito, outros mais que queiram fazer algo pelos "desafortunados", fica a modesta sugestão de criação de campeonatos de "futebol de botão", "futebol na várzea", "futebol no vídeo-game". Mas, pelo amor de Deus, não convidem agremiações esportivas de amplitude nacional, como Santos (ooops), Flamengo, São Paulo, Grêmio, Palmeiras, e outros mais. E PRINCIPALMENTE O CRUZEIRO!!!!!
Destarte, finalizando com espírito esportivo, parabéns ao Atlético (campeão de Minas Gerais, expressão maior de suas conquistas ao longo dos últimos quarenta anos), pois os miseráveis também devem ter o direito à alegria, ainda que por motivos mínimos e evidentemente temporários...

domingo, 2 de maio de 2010

Nota fiscal.

Muito poderia ser dito ou escrito sobre a utilidade da nota fiscal. Todavia, considerando não me sentir um especialista no assunto, por ora, apenas discorrerei sobre as vantagens mais imediatas de se exigir a nota fiscal dos comerciantes.
É bem verdade que o governo não colabora, mantendo alíquotas fiscais absolutamente injustificáveis, o que desperta a impressão de que estamos sendo constantemente lesados (furtados, extoquidos, roubados ou o termo que se entenda mais adequado) pelo fisco.
Desta forma, desenvolve-se na sociedade uma resistência contra aquele que, em primeira análise, lhe prejudica, exigindo tributos em índices percentuais (alíquotas) impublicáveis. Com isso, as pessoas adotam uma "cultura" da sonegação. Funciona mais ou menos assim, o sujeito pensa: "não vou pagar impostos para essa corja de políticos, afinal o governo só quer me roubar, pois arrecada enorme receita e não converte isso em benefício da população. Pelo que observo, a corrupção está cada vez maior, é político com dinheiro na meia, na cueca...". Assim, de forma geral, as pessoas sentem-se coniventes com o comerciante que evita lhe fornecer a nota fiscal, pois imagina que ele está adotando a mesma postura que elas, ao deixar de recolher impostos que também julgam indevidos e abusivos. É uma espécie de filosofia da sobrevivência; lei do cão. No imaginário coletivo, é o governo tentando "roubar" cada vez mais e as pessoas resistindo para evitarem ser cada vez mais "roubadas".
Todavia, há um "algo mais" que precisa ser destacado. Além dos conhecidos prejuízos impostos aos cofres públicos, uma vez que, assim, o governo obtém menos recursos para investir no interesse da coletividade (e em se tratando de Brasil, na corrupção também, por que não?), negligenciar o trânsito da nota fiscal, pode acarretar em ainda maiores prejuízos à sociedade. A nota fiscal constitui-se num importante instrumento de fiscalização pública, pois as autoridades podem fiscalizar não somente a sonegação fiscal, mas, também, por exemplo, a regularidade do trânsito das mercadorias. Ou seja, permite aferir a "origem" da mercadoria comercializada.
Trazendo o discurso para uma "realidade" mais perceptível, tenha-se o caso de um conhecido que teve, primeiro, a antena de seu automóvel furtada e, depois, as calotas que adornavam as rodas do "seu possante". Pois bem, essa "vítima" do "amigo do alheio" (que, seguramente, não denunciará o episódio a qualquer autoriedade policial, pois sabe que nada será feito e o responsável ficará impune), possivelmente, procurará um estabelecimento de peças usadas (os conhecidos "Ferros Velhos") e adquirirá nova antena e um novo jogo de calotas. Aquele comerciante, decerto, lhe fornecerá os "produtos" sem esboçar qualquer atitude no sentido de lhe fornecer a nota fiscal (ou então, perguntará: "com nota ou sem nota?"), e o cidadão simplesmente pensará que não haverá qualquer problema, pois apenas o governo deixará de "roubar" um pouco mais. Ledo engano.
Ao ser "cúmplice" no citado comerciante, o cidadão poderá estar se aliando àquele que alimenta toda a "cadeia produtiva" da bandidagem. Explica-se: o ladrão que lhe furtou a antena e as calotas (certamente, um infeliz viciado, pois se fosse um "bandido de estirpe" teria levado o próprio automóvel ou, então, se candidatado a algum cargo público - os políticos não são TODOS bandidos, mas uma considerável parte deles...), seguramente, procurou aquele "inofensivo comerciante" para lhe vender o produto do furto, e ele, por sua vez, obteve reforço ao seu estoque às custas da "vítima", que agora lhe reforça os lucros. É um ciclo vicioso cruel, que representa o cidadão atuando em seu próprio prejuízo, pois ao tentar evitar a arrecadação dos tributos que julga indecentes, auxilia aquele que incrementa uma "cadeia produtiva" que investe contra a sua própria segurança.
Há que se dizer que ao permitir que o comerciente "sonegue", deixando de emitir e lhe entregar a nota fiscal, o cidadão está, também, "sonegando", às autoridades (agora mais às policiais que às fiscais), um importantíssimo instrumento de apuração policial. Ora, através da contabilidade do empreendimento, as autoridades policiais podem, perfeitamente, apurar o trânsito de "produtos" furtados, na medida em que têm como verificar a "origem" de todo o estoque dos comerciantes, inclusive daqueles que "alimentam a bandidagem". Então, voltando ao "raciocínio" de nossa "vítima", com os instrumentos que deixou de fornecer às autoridades, a polícia poderia prestar o serviço que ele imagina que não pode ser prestado...
De tudo isso se conclui que o furto que da antena e das calotas inicialmente relatado, certamente, poderia nunca ter acontecido, se o bandido não tivesse a quem "repassar" o produto de sua bandidagem... Do episódio narrado, não é difícil perceber que a exigência da nota fiscal poderia combater o furto de peças automobilíticas e o próprio tráfico de drogas (conforme registrado, "nosso" bandidozinho, seguramente, é um pobre coitado viciado, pois ladrão que se preze, não se satisfaz com "anteninhas e calotinhas")...
Ah..., e a propósito, o leitor se lembra dos políticos corruptos, safados e desonestos que se apropriam da receita tributária para "roubar" o povo? Pois é..., também neste cenário o cidadão tem "culpa no cartório", pois nenhum político é produto de "geração espontânea", mas eleito com o voto de cada eleitor.
E o erário? Bom, o erário pertence ao Estado e não aos governos; aquele é permanente e definitivo; estes transitórios e temporários! O Estado é absoluamente necessário para a sobrevivência da própria sociedade, o governo é constituído por pessoas e idéias que representam os anseios de uma maioria. Ou não...