terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Anomia

Anomia (Robert Merton)
Embora boa parte das pessoas desconheça o que seja "anomia", devemos esclarecer que alguns grandes pensadores já se ocuparam de um estudo mais aprofundado do que significa o referido conceito.
Numa definição semântica, poder-se-ia definir "ANOMIA" como ausência (a) de norma, lei ou regra (nomos).
A verdade é que, atualmente, o conceito é adotado para explicar três situações:
a) Quando a pessoa comporta-se demonstrando pouca ou nenhuma vinculação às regras (leis) socialmente preceituadas;
b) Quando ocorre um conflito (contradição) entre normas, de forma a estabelecer uma indefinição do comportamento socialmente exigido da pessoa;
c) Quando se depara com a inexistência de norma específica que preveja a regulamentação de determinada conduta social.
Nesta breve introdução, o leitor já deve começar a se sentir familiarizado com o conceito, pois, seguramente, já vislumbra os mais variados exemplos de conduta anômica, inclusive, por experiência própria...
Não obstante, é preciso advertir que o conceito é explorado distintamente pelos pensadores que deles se ocuparam, podendo-se anunciar, como os mais destacados representantes, Èmile Durkheim e Robert Merton.
Por ora, deveremos nos limitar à concepção doutrinária do pensador norte-americano Robert Merton, cuja definição explica, em muito, determinados comportamentos desviantes (ilícitos) de cunho eminentemente patrimonialista (delitos contra o patrimônio) ou mesmo outros, de motivação política.
Consideremos, então, que Robert Merton classifica os comportamentos humanos como "modos de adaptação", que são por ele definidos como de "conformidade", de "inovação", de "ritualismo", de "evasão" e, por fim, de "rebelião".
No que respeita aos conceitos de Merton ("modos de adaptação"), cada cidadão poderia ser enquadrado num determinado "figurino" conceitual.
Convém, inicialmente, assinalar que, para Merton, o grupamento social estabelece determinadas "metas" e, concomitantemente, certos "meios" adequados para alcançá-las, de sorte que cada cidadão comporta-se de determinada maneira frente às "metas" e "meios" socialmente fixados.
No nosso modelo social, disseminado no "mundo capitalista", podemos dizer que todo cidadão aspira o sucesso ("meta"), e este, em grande parte, é definifido como "poder/dinheiro/fama"; por outro lado, esta mesma sociedade dispõe que o indivíduo deva alcançar a "meta", segundo os "meios" socialmente admitidos (estudar, trabalhar e, enfim, enriquecer, cuja conseqüência será a obtenção de fama, prestígio e poder).
Para que possamos observar o que representa determinado enquadramento do cidadão segundo a teoria de Robert Merton, segue uma breve definição dos diversos "modos de adaptação", sempre considerando a existência de "metas" e "meios" socialmente difundidos, no caso, na referência feita ao padrão de "riqueza/fama/poder":
"Conformidade" - Pelo comportamento classificado como "conformidade", o indivíduo busca atingir as "metas" socialmente previstas empregando os "meios" estabelecidos e admitidos por essa mesma sociedade. É o indivíduo plenamente adaptado ao figurino socialmente admitido;
"Inovação" - Neste caso, o indivíduo admite plenamente as "metas" socialmente difundidas (segundo a nossa definição, para esse indivíduo "riqueza/fama/poder" são, de fato, os objetivos a serem alcançados). Todavia, o "inovacionista" não concorda com os "meios" institucionalizados para a obtenção das "metas" cobiçadas. É que, para ele, "os fins justificam os meios", ou seja, atingindo as "metas", os "meios" utilizados não interessam... No caso, pode-se ilustrar com as típicas condutas criminosas: deputados corruptos, mas ricos; traficantes; seqüestradores; grandes assaltantes...;
"Ritualistas" - Agora, muitas pessoas se reconhecerão... Segundo Merton, o "ritualista" é aquele indivíduo que confere mais valor aos "meios" que às "metas" sociais. Neste caso, o indivívduo demonstra desinteresse em atingir as "metas" sociais, pois o medo do insucesso produz o desencanto e o desestímulo... O "ritualista" acredita, assim, que nunca poderá atingir o que é socialmente difundido; por outro lado, o mesmo indivíduo "ritualista" demonstra extremo apego ao cumprimento de todas as formas de regras sociais (pode-se sintetizar, afirmando que o pacato cidadão, que trabalha duro e respeita as leis, sem nunca acalentar qualquer objetivo conforme os valores socialmente estabelecidos, constitui um exemplo de "ritualista"). Entretanto, é preciso reconhecer implicações socialmente negativas na conduta do "ritualista", pois sendo ele, por exemplo, um chefe de seção numa indústria ou um chefe de repartição pública, certamente, não permitirá qualquer ambição aos seus subordinados e, conseqüentemente, comprometerá o desenvolvimento individual e coletivo;
"Evasão" - Este comportamento é caracterizado pelo indivíduo totalmente alienado, pois não observa os "meios" e, tão pouco, almeja as "metas" sociais. Para o "evasivo", não importam os "meios", que são por ele ignorados, nem tampouco as "metas", que são por ele desprezadas. Como alienado, pode-se perceber o perfil do drogado, do alcoólatra, do mendigo...
"Rebelião" - Finalmente, o "rebelde", como o conceito revela, é o indivíduo discordante dos "meios" e "metas" socialmente consolidados. Antes que se confunda com o conceito de "evasão", é importante que se registre que, conquanto discorde dos "meios" e "metas" preceituados, o "rebelde" defende seus próprios "meios" e "metas". É dizer, inconformado e revoltado com o "status quo" social, o "rebelde" preconiza a radical transformação, para que, então, possam ser observadas novos "meios" e novas "metas" sociais.
Sem embargo da conceituação negativa anteriormente explorada, é válido registrar que a "inovação" ou a "rebeldia" podem ser caracterizadas por comportamentos socialmente benéficos, pois muitas vezes envolvem a concepção de novos valores que poderão resultar em efetivo progresso social (ex.: grandes inventos, conquistas sociais, difusão de novas formas de produção, etc.).
Tirante algumas críticas que, seguramente, podem ser endereçadas à teoria de Robert Merton ou desconsideradas determinadas vantagens em comportamentos "inovacionistas" e "rebeldes", é importante que se admita que muitas condutas desviantes podem ser por ela explicadas, notadamente, a incontida obstinação de determinados indivíduos em buscar o "sucesso" (dinheiro/fama/poder) a todo custo, como certos "governadores" corruptos e outros maus políticos...

3 comentários:

  1. Fantástico! Este texto me leva a refletir e discutir de forma mais fundamentada algumas questões latentes.

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  2. Excelente Blog. Eu que sou fã do Amigo Ricardo, em nossos encontros de bate-papo tenho nele uma fonte de sabedoria!!
    Agora todos poderam compartilhar e aprender e aumentar os conhecimentos com total trasparencia.

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