sábado, 6 de fevereiro de 2010

O mundo dos corruptos

O instável mundo dos corruptos... Num momento, vêem-se cercados de benesses e bajulações, principalmente daqueles que ignoram a fonte de sua ostentação - é que no, imaginário comum, a riqueza nem sempre desperta suspeitas quanto à sua origem -, no outro, notadamente quando expostos em sua abominável prática, surpreedem-se isolados, abandonados por aqueles a quem tinham como fiéis companheiros. Vale o dito comum: "você só observa as pingas que eu tomo; não vê os tombos que eu levo". Pois bem, toda prática ilícita tem destino semelhante... Quando tudo dá certo, o protagonista é "admirado", visto como exemplo, modelo de sucesso; quando exposto o caráter abominável de sua atividade, então é execrado justamente por aqueles que o tinham como modelo... Vale indagar: O que é objeto de admiração, o sucesso material ou a propalada esperteza? Então, a busca pela acumulação de riqueza deve suplantar toda e qualquer valoração de princípios? O que é mais admirável, o homem rico ou o homem honesto? Talvez, a própria sociedade deva rever seus conceitos, pois os objetos de culto devem ser repensados..., os valores devidamente sopesados... Afinal, já diz o ditado "nem tudo que reluz é ouro, nem tudo que brilha é prata"... Ademais, o Brasil não é como os Estados Unidos, onde o cidadão que ostenta alguma riqueza, normalmente já a justificou para o Fisco. Então, lá, de forma geral, o cidadão só pode ostentar patrimônio se já tiver justificado para o Estado (Receita) a origem da riqueza demonstrada. Mas, no Brasil todos sabemos não ocorrer o mesmo... Aqui, o sujeito ostenta e expõe, orgulhosamente o próprio patrimônio (o senso comum se encarrega de encará-lo como um "homem de sucesso"), e se pressionado, com espantosa naturalidade, diz que a riqueza pertence a outrem, os "famosos laranjas". Mas, e os "laranjas"? São efetivamente fiscalizados pelo Estado? Como pode alguém possuir alguma riqueza sem "lastro", ou seja, sem condições pessoais que justifiquem o patrimônio registrado em seu nome? Numa rápida digressão, certa vez ouvi de alguém: "não se iluda se vir alguém ostentando impressionante riqueza, saiba que 'ele prejudicou alguém, prejudica alguém ou é filho de quem prejudica ou prejudicou alguém', pois não há riqueza excessiva sem que a conquista tenha resultado de uma sangrenta competição"... Embora não tenha concordado prontamente com tão desesperançado pensamento, dá o que pensar...
Assim é o Brasil, podem ter certeza. Conhecemos, por exemplo, inúmeros (maus) políticos (ah..., sempre eles...) que possuem um patrimônio absolutamente incompatível com uma vida inteira dedicada aos mandatos que se sucederam. Mas, o patrimônio está lá, para quem quiser ver. E se averiguarem, então disparará: "isto não me pertence"; "isto é perseguição política"; "jamais possui tal patrimônio, pois sou um homem absolutamente correto e toda a minha fortuna foi conquistada com muito trabalho honesto", e por aí vai... Mas, no submundo dos conchavos, impõe a sua "moeda" de troca, exigindo o fim das apurações e divulgações em troca do apoio político solicitado... É o momento de impor a prática disseminada no meio...
Afinal, os outros sempre têm "algo a esconder" ou "algo a conquistar"... E muitas vezes a prática corrupta constitui um imperativo da realidade em que se está submerso. Mas, enquanto estiver acolhido por seus iguais, vivendo em "comunhão de interesses", o corrupto seguramente não terá maiores preocupações, pois o instinto comum de defesa e autopreservação impedirá o linchamento daquele com quem se divide propósitos, projetos e práticas.
Com isso, só um determinado enfrentamento poderá abalar os alicerces desse "império". Mas, para um enfrentamento exitoso, o povo, um "exército poderoso" quando organizado, deverá estar muito bem preparado, mas, para tanto, não há como negligenciar o maior de todos os "equipamentos de combate", o intelecto - conhecimento, educação, informação, aliados à capacidade individual de pensamento e reflexão. E eis aí a grande estratégia do "corrupto": enfraquecer o povo, sonegando-lhe, justamente, o conhecimento, a educação e a informação, principalmente, quando, apenas aparentemente, oferece as três, mas de forma manifestamente distorcida, comprometendo, assim, a formação intelectual daqueles que, unidos e organizados, poderiam representar ameaça aos seus propósitos.
Mas, num determinado momento, um corrupto (exemplar) é "jogado às feras", a fim de legitimar a perpetuação da corrupção, pois os que ficam, batem no peito e dizem: "nós punimos o bandido"... E o abominado, traído por seus iguais, normalmente vislumbra o universo de abandono em que se vêem mergulhados aqueles que não puderam contar com o "socorro amigo". Perdeu o apoio que lhe permitia barganhar... Mas, é como a lei da selva, para a manutenção do grupo, alguém deve ser sacrificado. A manada deixa pra trás os mais fracos e doentes, para que os leões, saciados, deixem o bando em paz... O importante é a segurança "do grupo". E isso qualquer grupo minimamente organizado sabe bem: autopreservação, pessoal e de interesses.
É dizer, pilhar um corrupto não quer dizer, atingir a corrupção... O praticante não coincide com a prática, embora o contrário seja bem mais admissível, pois a prática define a natureza do praticante...
E enquanto isso... Ah..., enquanto isso, os corruptos podem brindar ao sucesso da empreitada comum, pois o povo segue dominado... E da forma mais eficiente, a dominação ideológica...

Nenhum comentário:

Postar um comentário